segunda-feira, 28 de março de 2011

Templo de Santa Cristina de Serzedelo



Foi edificada pelos Templários em meado do século XII.

Esta vasta egreja, de uma nave e sem transepto, mede exteriormente 34 metros de comprido e 7m,78 de largo.
No remate da fachada pousa uma pequena pedra em forma de palmatória tendo gravada ao centro a cruz octogona da Ordem, a qual nas quatro extremidades corta para dentro em semicírculo.
A porta principal, com a archivolta bellamente ornamentada, está para o Occidente como era de uso antigo entre os povos catholicos e pagãos.
Estes entravam no templo ficando voltados ao Oriente em adoração ao sol nascente ; e aquelles alludiam á posição de Jesus Christo quando expirou no Calvário.
A cimalha, em volta do edifício, é de molduras simples, ornada de pérolas a espaços, e descança sobre grossos modilhões completamente lizos.

Ao lado esquerdo da fachada ergue-se, em forma de muralha forte, com dois campanários no alto, o origirialissimo torreão, genuína construcção da epocha. Não obstante ser coberta de madeira, tem a egreja contrafortes ou gigantes.
Próximo da capella-mór ha duas portas lateraes, vendo-se a do lado sul coberta por pequeno alpendre com as respectivas columnas encostadas a dois túmulos de pedra onde provavelmente descançam um ecclesiastico £ um guerreiro, visto haver no da esquerda
uma espada gravada com um brazão ao lado, e o da direita estar collocado com a cabeceira para fora.
Numa das pedras da parede exterior norte, próximo da porta lateral e junto do friso que outr'ora pertenceu á alpendrada, estão cravadas as lettras :

SES
N NN
D O

Não pertencem á primitiva obra estes poucos caracteres nem tampouco podemos admittir que fossem gravados de lado como estão. A segunda e terceira linhas poderiam ser tomadas como abreviaturas das primeiras palavras da divisa dos Templários — Non nobis domine sed nomini tuo da gloriam.

Transpondo a porta principal da egreja o visitante entra numa galilé curiosa que mede 9,53 de comprido por 5,67 de largo, com dois túmulos abertos em arco na parede e o pavimento coberto de sepulturas com grandes espadas toscamente gravadas sobre as tampas. Numa d'estas existe um swastica de crusamentos duplos, terminando em curvas, emblema funerário dos tempos do paganismo. D'aqui passa-se ao corpo da egreja por um arco que mede na abertura apenas 1m,97.
Todas as janellas inclusive a que fica sobre a porta principal, conservam ainda a forma de setteiras.
O arco da capella-mór mede 3m,68 na abertura e descança em duas grossas columnas com os capiteis antigos. Por proposta minha foi esta egreja considerada monumento nacional em dezem bro de 1897.

- Archeologia


Descrição
Planta longitudinal composta por exonártex fechado e nave única rectangulares, capela-mor quadrangular, com sacristia, também quadrangular, adossada lateralmente a S. e muro campanário disposto lateralmente em relação à fachada principal, também a S.. Volumes escalonados de dominante horizontal, com nave mais alta do que os restantes volumes. Coberturas diferenciadas em telhados de duas águas. Fachadas em alvenaria de granito, com embasamento, na fachada lateral S., no corpo da nave, escalonado. Remates das fachadas de topo em empena coroadas por cruzes páteas no exonártex e nave e cruz florenciada na capela-mor, e das laterais por cornija suportada por cachorrada lisa. Fachada principal orientada, com pano do exonártex aberto por portal, com consolas suportando tímpano, inscrito em duas arquivoltas ligeiramente quebrados, com impostas destacadas. A primeira arquivolta é enquadrada exteriormente por friso em dente de serra e dois sulcos simples que a percorrem inferiormente. Em ambas as arquivoltas existem alguns silhares com siglas. A encimar o portal encontra-se fresta inscrita em arco pleno enquadrado por dois sulcos, à semelhança da arquivolta do portal. Pano da nave, com fresta, parcialmente oculta, enquadrada por arquivolta plena. Fachada lateral N., com pano do exonártex e da nave percorrido por cachorros que suportariam alpendre, no da nave encimados por pingadouro. Neste pano rasga-se portal com consolas suportando tímpano decorado por cruz pátea vazada, enquadrado por arquivolta ligeiramente quebrada. Junto ao portal, do lado esquerdo encontra-se silhar com inscrição. Pano da capela-mor rasgado por fresta, ladeada por dois cachorros, colocados a diferentes alturas. Fachada lateral S. igualmente percorrida por cachorros, na nave e na sacristia, encimados por pingadouro. Pano do exonártex com portal, semelhante ao da fachada oposta, apenas com a diferença que a cruz pátea do tímpano não é vazada. É ladeado superiormente, do lado esquerdo, por fresta. Pano da nave, com contraforte abaixo do pindadouro, e a cima sequência de três frestras. No estremo direito outro portal, com consolas suportando tímpano, vazado com cruz pátea, enquadrado por arquivolta plena. Pano da sacristia perpendicular ao da nave rasgado por portal em arco quebrado, enquadrado superiormente por arquivolta, também quebrada, e entre os cachorros dois escudos. Acima do pingadouro rasga-se fresta. Fachada posterior com panos da nave e capela-mor rasgados por fresta e pano da sacristia com janela em arco quebrado, mainelada, com impostas destacadas, e pequeno óculo quadrilobado na enjunta. Muro campanário em alvenaria de granito, com sineira no topo, ao centro, em empena, com duas ventanas em arco pleno e acesso por escada de ferro. INTERIOR com paredes em alvenaria de granito. Exonártex com cobertura em masseira de madeira com o travejamento à vista. Pavimento em taburnos de madeira e guias de granito. Do lado do Evangelho encontra-se baptistério sobre plataforma de granito, com pia baptismal de taça e coluna octogonal. Na parede rasgam-se dois arcossólios, ligeiramente quebrados, enquadrados por arquivolta. Parede do lado da Epístola com portal de comunicação com o exterior, enquadrado por arco pleno, com siglas nos seguintes do fecho, assente em imposta destacada. Parede testeira com portal de acesso à nave, com consolas suportando tímpano vazado por cruz pátea. É enquadrado por três arquivolta, a exterior decorada por friso de lanças. Nave com cobertura e pavimento igual ao do exonártex. Parede do lado da Epístola com púlpito de base granítica, rectangular, assente em modilhão, e guarda vazada em balaustrada de madeira. Acesso por escada de madeira. Em ambas as paredes rasgam-se portais de acesso ao exterior, ladeados por pia de água benta gomada. Arco triunfal pleno assente em colunas fuste com vestígios de pintura mural de arabescos e capites fitomórficos. Nesta parede encontram-se vestígios de pintura mural, superiormente com arabescos, e a ladear o arco triunfal, prolongando-se para as paredes laterais da nave, com representação de vários santos, delimitados por painéis. Nestes painéis, do lado do Evangelho, encontra-se a representação "O martírio de São Sebastião", e um anjo, e do lado da Epístola "A coroação da Virgem" e Santo António. Ainda neste último lado, mas na parede lateral da nave, encontra-se um painel com São Brás. Capela-mor com cobertura em tecto de masseira de, decorado por caixotões de talha dourada com pintura de medalhões fitomórficos. Pavimento em laje de granito. Parede testeira com altar recto de granito com sacrário de talha, sobre supedâneo de dois degraus. A encimar o altar rasga-se fresta inscrita em arco pleno. A parede apresenta vestígios de pintura mural, com painéis figurativos, um deles representando "O milagre de São Martinho", com o santo representado a cavalo, com chapéu emplumado, espada na mão e oferecendo o seu manto a um mendigo. Apresenta igualmente decoração com motivos de arabescos, prolongando-se para a parede lateral, do lado da Epístola. Nesta última abre-se porta de verga recta, emoldurada, de acesso à sacristia, ladeada por nicho, encimada por fresta entaipada, inscrita em arco pleno. Sacristia com cobertura de madeira com travejamento à vista assente em cachorrada com sulcos marcados, do lado do Evangelho. Parede testeira com vestígios de pintura mural, bastante esbatidos, prolongando-se para a lateral esquerda. Parede fundeira com lavabo, com reservatório parcialmente oculto por espaldar rectangular com torneira e taça oval.

Descrição Complementar
INSCRIÇÕES: Inscrição funerária gravada em tampa de sarcófago, rectangular, apresentando no verso campo rebaixado para apoio no sarcófago; decoração com motivo da estola, bifurcada dupla; granito; leitura: OBI(i)T FAMulo DeI GALINDUS ERA MCVIIIIª ERA TCªXª (à era MCVIIII foi acrescentada posteriormente a era TCX, o que levou à mutilação de uma cruz primitiva); inscrição funerária (?) gravada em silhar reaproveitado existente na oitava fiada na fachada lateral N. da nave, do lado esquerdo do portal; sem moldura nem decoração; granito; leitura: SES NAN DO.

Cronologia
1071 / 1072 - Data da inscrição funerária existente no sarcófago com alusão a Galindus, provavelmente Galindus Gonzalvis, pai de Soeiro Galindes, Senhor de Riba-Cávado, casado com D. Goína Pais, bisneta do Conde D. Paio Vermudes, presor da Terra da Vinha; José Mattoso aponta para outro provável Galindus Gonzalvis, casado com Vistregia, pai de Patrina e de Trutesendo Galindes, este último fundador do Mosteiro de Paço de Sousa;
Séc. XI, final - Provável data da inscrição, possivelmente pertencente a um monumento funerário de Sesnando;
Séc. XII - segundo José António Almeida existia no local um convento dos Eremitas de Santo Agostinho, que terá pertencido aos Templários, tendo passado posteriormente depois para a Comenda da Ordem de Cristo; segundo Pinho Leal o mosteiro pertencia à Ordem de São Bento;
Séc. XIII, meados - provável reedificação da igreja;
Séc. XIV - construção da capela funerária adossada a S. da capela-mor;
Séc. XV - a igreja passa a ser abadia secular; posteriormente passa a reitoria;
Séc. XVI, primeira metade - execução das pinturas murais;
Séc. XVIII - construção do tecto de caixotões da capela-mor;
1717, 2 Setembro - na Visitação é referido que "o fabriqueiro não tem dado satisfação às obras mandadas fazer na visita passada, com telhar a Capela Maior da Igreja, consertar a vidraça...";
1718, 18 Agosto - segundo a Visitação foram colocadas as redes nas frestas, faltando tapar a porta lateral do exonártex;
1720, 2 Dezembro - segundo a Visitação ainda não foi colocada a vidraça nem as telhas na capela-mor;
1723, 26 Novembro - segundo refere a Visitação " Acho o corpo da igreja tão escuro e falto de luz que se não escusa abrir-se nela uma fresta de bom tamanho, que tenha cinco palmos de alto e quatro de largo com sua grade de ferro, vidraça e rede de arame (...) os fregueses mandarão abrir da parte da pia baptismal, na forma que determino em termo de três meses sob pena de 3000 réis (...) também a porta travessa da parte da dita pia está muito baixa e incapaz para ela sair o palio, cruzes e mais paramentos das procissões, pelo que mando os fregueses ou a levantem ou façam uma de novo mais abaixo da que está"; a questão da porta teria de ser resolvida no prazo de 4 meses, sob pena de 4000 réis pagos pelo juiz da igreja;
1724, 25 Outubro - a Visitação menciona que nenhuma das obras ordenadas foi executada;
1725, 27 Novembro - a Visitação refere que devido à dificuldade em se abrir uma janela no local onde estava a pia baptismal, pois a parede era bastante grossa, que a pia se mude para o exonártex, do lado esquerdo do portal, rodeada por grades altas;
1726, 1 Novembro - a Visitação refere que a pia baptismal já foi mudada, mas que as grades poderão ser dispensadas por não haver espaço;
1729, 2 Agosto - segundo a Visitação, os fregueses deverão arranjar o forro da igreja, junto ao arco e telhar o cabido da porta travessa, do lado da Epístola;
1730, 26 Junho - a Visitação menciona que as obras ordenadas não foram feitas; as casas da Residência e recolhimento de frutos ameaçavam ruína, pelo que seria um prejuízo para o Comendador da Igreja, o Conde da Ericeira;
1731, 16 Setembro - Visitação dando conta que as casas da Residência ainda estavam arruinadas; determina-se que se rasgue uma fresta na capela-mor, ao pé do arco triunfal; 1733, 7 Dezembro - a visitação dá conta que as obras da casa da Residência ainda não foram feitas; a despesa pertencia ao Comendador;
1739 - a Visitação determina que se limpe a pia baptismal, assim como o sacrário, retábulos, imagens, paredes, forros; segundo o visitador, o padre terá de limpar a igreja pelo menos quatro vezes por ano;
1743, 10 Novembro - a Visitação menciona que a igreja se encontra muito abaixo do nível do adro, que para lá entrar tem de se descer três degraus; existem muitas inundações devido a sua situação rebaixada; é também demasiado escura; o visitador ordena que se encha de terra o pavimento interior da igreja, de modo a ficar nivelado com a capela-mor; que se disponham as campas como estavam; que se levantem os retábulos colaterais; parte da porta travessa do lado da Epístola terá de ser entaipada; por cima da porta lateral da nave, do lado da Epístola terá de ser aberta uma fresta; os guarda-pós dos retábulos deverão ser arranjados;
1744, 10 Novembro - o visitador revoga a ordem de enchimento do pavimento interior de terra, devido à intenção dos moradores mudarem a igreja para junto do Calvário; o visitador ordena ainda que se doure o frontal do retábulo-mor;
1746, 20 Novembro - devido à falta de dinheiro para as obras o visitador determina que o padre no termo do mês dê parte da Mesa da Consciência para a obra do douramento do frontal do retábulo-mor; no prazo de dois meses será feito o cruzeiro fronteiro à igreja;
1760, 29 Fevereiro - o visitador determina que se arranje os caibros do forro por cima do coro, assim como todo o telhado, usando a telha e cal que for necessária;
1780 - segundo o Abade de Tagilde a igreja recebeu uma visitação neste ano, sendo reconhecida a necessidade de reformar a igreja e se fizesse importantes obras; os fregueses forma com embargos à Relação primaz, que confirmou o mandato do visitador; subiu recurso à Coroa, que ordenou que o visitador procedesse com justiça;
1784 - perante o visitador foi resolvido fazer uma nova igreja junto do Calvário, no entanto esta obra nunca chegou a ser feita;
Séc. XIX - provável reforma da igreja, nomeadamente construção de novos retábulos e sanefa do arco triunfal;
1941, Fevereiro - um ciclone causa diversos estragos na igreja;
1942, Junho - início das grandes obras de restauro do edifício, levadas a cabo pela DGEMN *1;
1957 - a igreja é reaberta ao culto, apesar de as obras não estarem totalmente concluídas;
1981 - carta do páraco de Serzedelo, Padre Manuel Dias da Silva Salgado, ao Ministro das Obras Públicas, dando conta da necessidade da construção de uma nova igreja paroquial, na proximidade da antiga;
1990, 7 Novembro - carta do páraco José António Fernandes Antunes ao presidente do IPPC dando conta que o adro estava em estado de abandono, pois as obras nunca haviam sido concluídas, e que a rampa que foi construída permitia a entrada de águas pluviais no interior da igreja;
1993 - a igreja já não apresentava culto.

Características Particulares
A Igreja de Serzedelo é um dos poucos exemplares em Portugal que ainda conserva o exonártex, praticamente intacto, cuja função inicial seria funerária. As frestas da fachada principal do exonártex e da sacristia não estão alinhadas com os portais respectivos, o que poderá indiciar, possivelmente, épocas de construção diferenciadas entre os portais a abertura das frestas. Conserva alguns sarcófagos medievais, que pertenceriam ao primitivo mosteiro, um deles com inscrição datada do Séc. XI. No interior são ainda visíveis restos de pintura mural, com representação de santos e decoração de arabescos, que revestiria a zona do arco triunfal, a capela-mor e a sacristia, primitiva capela funerária.

Observações
*1 - Antes do início dos restauros, a igreja encontrava-se da seguinte forma: No exterior, toda a fachada lateral S. encontrava-se semi enterrada, com o portal do exonártex entaipado e o da nave rebaixado, com acesso por escadaria e coberto por alpendre. Apenas o portal do exonártex possuia tímpano. A mesma fachada possuia uma porta de verga recta, com escadaria, de acesso ao coro. A sacristia possuia telhado de uma água, com janelão rasgado lateralmente. O campanário possuia três sineiras. O seu interior encontrava-se caiado, a nave era coberta por abóbada de berço em madeira, pintada com motivos florais. O pavimento era em soalho. O coro-alto era assente em arco pleno e apresentava guarda vazada em madeira. Possuia retábulos colaterais, retábulo-mor e sanefa do arco triunfal neoclássicos, em talha policroma a branco e dourado. A fresta acima do arco triunfal e da capela-mor estavam entaipadas, esta última oculta pelo retábulo-mor. A capela-mor era revestida a azulejo.

(fonte: IHRU)

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